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Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus; confio no amor de
Deus para todo o sempre. Salmo 52:8

terça-feira, 31 de julho de 2012

Um sorriso como resposta

  

Parque Burle Marx - São Paulo - Fotos Joana S. Croxato

...sejamos firmemente encorajados, nós, que nos refugiamos nele para tomar posse da esperança a nós proposta. Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior, por trás do véu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre... Hebreus 6:18-20


Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. Hebreus 10:19-23


Mesmo que eu dissesse que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz.
Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir. Salmos 139:11-16


 
Tivemos um fim de semana ensolarado e agradável em São Paulo. Parecia verão. Céu limpo, sol, calor. Uma sensação boa de estarmos vivos e termos tanto a viver... mas um estranhamento de estarmos novamente só nos dois, sem nossa bebê amada, como se tivéssemos voltado no tempo, como se fôssemos mais jovens, casados há menos tempo. Mas quanta coisa que já vivemos! Especialmente nestes últimos três anos, e nunca mais seremos os mesmos.

Não vou dizer que está sendo fácil, tampouco que está sendo difícil, porque não há como avaliar ou comparar a ausência. E é estranho falar sobre uma ausência tão presente! Nos deitamos e acordamos pensando nela, andamos pensando nela e falamos sobre ela. Tenho me lembrado de muitos momentos da sua gestação, talvez porque é o período mais recente e marcante em que éramos o Marcelo e eu, saíamos bastante de casa, conversávamos, passeávamos, sempre curtindo ela em minha barriga. Agora curtimos ela em nossa memória e em nosso coração. Toda a nossa vida agora é lembrada antes, durante e depois da visita dessa ilustre princesinha do céu.

Saímos para caminhar em dois parques, sábado no Burle Marx e domingo no Ibirapuera. Fazia muito sol e toda a natureza parecia sorrir, as árvores, as flores, os pássaros, até as sombras das árvores, tudo era radiante e bonito. Nestes dois parques tínhamos levado a Vitória algumas vezes e pudemos lembrar de momentos felizes. Conversamos bastante, também lembrando das dificuldades que enfrentamos, como foram difíceis os momentos em que nossa gatinha ficou doente e internada, como sofremos por ela e com ela. E como nos alegramos toda vez que ela ficava boa e voltava a ser a mesma gatinha sapeca e feliz. Sentimos muitas saudades suas. Mas não consigo questionar a Deus ou me afundar na tristeza, porque Deus preparou nossos corações, desde o início, para olhar para as suas obras, para os seus propósitos e tentar ver um pouco tudo como Ele vê e não como nós, humanamente, costumamos ver a vida, a doença e a morte.

Desde a sua gestação teríamos motivos para chorar e lamentar. Mas não o fizemos. Muitas pessoas ao nosso redor se entristeceram e sequer sabiam o que nos dizer. O que eu sempre disse é que estávamos colocando a vida dela nas mãos de Deus e confiávamos que Ele faria o melhor. E sorria com a mão sobre minha barriga. Queríamos um milagre, tínhamos esperança, mas sempre a entregamos ao nosso Pai, pois somente Ele saberia o que fazer. Ela sempre esteve nas mãos de Deus. E sempre esteve livre para partir. Mas ela ficou. Por nove meses de gestação. Por uma hora, duas horas, 24 horas de vida. Uma semana, um mês, um ano, dois anos. Por trinta meses ela ficou conosco.

A primeira vez que ela adoeceu gravemente, em outubro do ano passado, eu lhe disse: "filha, se você está cansada, se você quer ir para Deus, você pode ir, você sabe que mamãe vai sempre te amar e um dia vai te encontrar. Mas se você quer lutar, saiba que mamãe está aqui para lutar com você. Mamãe vai cuidar de você sempre, e vai sempre pedir a Deus por sua vida". Por duas vezes ela disse que ficaria e lutaria. E como lutou! Mas entendo que ali Deus já estava preparando nossos corações para a despedida, sem que soubéssemos. Desta vez ela disse que estava cansada. Por doze horas eu fiquei ao seu lado sem comer, sem beber, somente pedindo a Deus por sua vida, segurando sua mão, observando-a atentamente e lhe dando força e amor. Então a médica veio avaliá-la novamente e nos disse quão grave ela estava e como não estava respondendo a nada. Antes que ela me dissesse isso eu já havia percebido, a pressão que não media mais, a falta da urina, os seus olhinhos abertos em silêncio querendo me dizer algo. Entendi que agora ela precisava ir. Tudo que eu sempre quis para ela era vê-la bem. Meu maior pavor era vê-la sofrendo sem conseguir reagir, sem perspectiva de sair do hospital e melhorar. Deus sempre ouviu nossas orações para que ela melhorasse. Sempre. E quando chegou este momento em que Ele permaneceu em silêncio diante a minha oração, eu entendi que era chegado o momento. Então eu lhe pedi que a levasse sem dor, que tivesse misericórdia dela e de mim. Eu lhe supliquei que a poupasse naquele momento. Talvez ela ficasse ali por horas, dias, semanas, em grande sofrimento. Mas Ele respondeu, mais uma vez. Até no momento da sua morte Ele mostrou seu amor cuidadoso, sua compaixão, seu carinho para conosco. Que Deus é esse que ouve a nossa oração, que nos carrega no colo, que nos exalta mesmo quando somos fracos, falhos, pecadores? Esse é o Deus que deu o seu Filho para salvar a minha filha da morte. Para sempre. E que me deu a minha filha para eu aprender a buscá-lo, e para eu entender tudo que seu Filho havia feito por mim. E quem sabe ajudar outros a também entenderem.

 

Durante sua vida, muitas pessoas se aproximaram para observá-la e eu percebia que sentiam pena por sua condição. Tudo que eu podia lhes dizer era que éramos felizes, que ela era amada e vitoriosa. E sorrir. Meu sorriso sempre foi a melhor resposta para os que questionavam se era difícil, se era triste ou sofrido ter uma bebezinha especial - e como ela era especial! Me entristecia perceber que havia pessoas que se entristeciam por nós. A vida da Vitória, por outro lado, sempre foi uma alegria. Pensava, puxa, como eles ainda não entendem? Interessante que ao mesmo tempo muitas pessoas também se aproximavam para nos parabenizar, para me abraçar e me dar força. Para beijar a Vitória, segurar sua mãozinha e dizer que ela era uma inspiração. Eu sempre agradecia e sorria em gratidão.

 

Hoje eu fico imensamente grata por tantas pessoas que me escreveram expressando seus sentimentos pela partida da nossa filha. Fiquei muito comovida vendo tantas pessoas que choraram junto conosco por ela, que se solidarizaram e escreveram palavras de apoio. Mas o que mais me alegra é saber que ela mudou a vida de inúmeras pessoas, que mudou a forma de muitos verem a vida, o aborto e as crianças com necessidades especiais. E me conforta saber que ela alegrou a vida de tantas pessoas e ainda é fonte de inspiração, de coragem, de amor. Que ela ainda aproxima as pessoas de Deus. Entendo que muitos ainda se entristeçam, mas meu desejo é que ela seja para todos uma lembrança feliz. Nada de probrezinha, tadinha... nada de não sei mais viver, não vou conseguir, quero morrer ou coisas do tipo. Diante de tudo que ela me ensinou, se agora eu chegasse e dissesse que "não entendo, meu Deus, por quê??" acho que ela lá do céu ia fazer aquele bico de brava e aquela cara de oncinha e perguntar: "puxa, mãe, você também ainda não entendeu???" E Deus ia dar uma boa risada!

 

Há inúmeras lembranças que me vêm à memória continuamente. Há tantas coisas que ainda quero contar sobre ela. Ao mesmo tempo tudo isso exige uma certa disposição emocional e física. Às vezes é preciso se distanciar para então se aproximar de novo de tudo isso que vivemos. Às vezes é preciso chorar e outras é preciso calar. E em outras é preciso rir. Porque é muito difícil enfrentar essa vida sem rir um pouco da gente mesmo e das nossas dores. E sempre é preciso buscar a Deus e agradecer.

Acho que existem um milhão de possibilidades sobre o que fazer daqui para frente. Sim, quero ter mais filho(s), sim, quero escrever um livro, sim, gostaria de voltar a trabalhar. Mas não, não quero ficar ansiosa, não, não quero ter pressa de nada, quero viver um dia de cada vez, quero ter tempo de chorar, de lembrar, de esperar a direção de Deus e do meu coração. Quero muito continuar a divulgar outras histórias, me dedicar mais a oferecer apoio e informação a outras famílias e lutar pela vida. Isso será feito em honra da minha princesinha que foi uma bênção nas nossas vidas para sempre.


No momento ainda estou tentando começar uma nova rotina - é extremamente estranho não ter que parar tudo que estou fazendo para atender uma gatinha manhosa e linda - acho que eu acabo sendo menos produtiva tendo mais tempo! Era tão bom não ter tempo e me sentir cansada e ao fim do dia olhar aquela menina linda no berço e pensar, como vale a pena, muito obrigada, Senhor!


Hoje somos muito mais maduros e acho que ainda somos felizes. Acabamos de nos despedir de nossa filhinha, ainda estamos de luto, sentindo a sua ausência a cada instante e tentamos nos acostumar com isso. Mas no tempo em que ela esteve conosco nos ensinou tanta coisa. E uma delas é que é possível ser feliz mesmo em circunstâncias adversas. É possível viver e ser feliz sem calota craniana e até mesmo sem um cérebro que possa ser visto e reconhecido pela medicina. É possível ser feliz com limitações e até mesmo quando estamos tristes, sim, isso faz parte da felicidade (imagina que horror uma vida inteira sem uma única frustação, uma única perda ou sem um único dia péssimo).

Hoje o que eu posso fazer é olhar suas fotinhos, seus vídeos, seu blog, e pensar, como valeu a pena, muito obrigada, Senhor! Cuidar dela foi a missão mais linda, mais nobre e maravilhosa que eu poderia ter tido. Mas também tenho que olhar para frente. Não faço ideia de como vai ser, e tenho muitos desafios. Mas sei que diante de minhas inquietações e dúvidas sobre o futuro, Deus olha para mim e me dá um grande sorriso como resposta. Não vai ser fácil, nunca foi, mas não estamos sozinhos.

esse sorriso com esses dois dentinhos foi a coisa mais linda que eu já vi na vida!


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ciclâmen e outras lembranças

este é um ciclâmen!

Na semana em que nossa amada filha mudou-se para o céu, tivemos aqui em São Paulo uma semana de sol e frio. Apesar do tempo bom, havia um ar gelado que doía na pele, mas um sol agradável que nos aquecia... E fomos inundados por uma estranha paz. Estranha porque jamais pensei que neste momento de nossas vidas eu estaria tão tranquila, sem o choro sofrido ou desesperado, sem angústia no peito ou mal estar. É verdade que nos faltava o apetite, os alimentos não tinham sabor e o que mais me apetecia era uma sopa leve e um pão torrado, apenas o necessário para amenizar a fome. Mas sentia junto com a paz uma alegria e orgulho pela vida da Vitória.

O apetite ainda não é o mesmo, tudo parece ter um pouco menos de sabor. Dá aquela vontade de ficarmos recolhidos, pensando e falando dela o tempo todo. Mas conseguimos sorrir, às vezes brincar com alguma coisa engraçada que acontece. Há uma alegria em meu coração por lembrar tudo que vivemos. Não posso pensar nela e não sorrir e agradecer a Deus. Há a certeza de que foi tudo perfeito e pleno. Não há culpa alguma, nenhum pesar de que algo poderia ter sido diferente, nada que pudéssemos ter feito para evitar sua partida. Apenas aquela saudade do tempo que passou, destes dias lindos que foram vividos intensamente, tantos os dias bons quanto os dias ruins. Mas esse era o seu tempo e tudo que era preciso foi feito. Sei que ela se foi no tempo perfeito e todo o período em que esteve conosco foi intenso e muito feliz. Mesmo nos momentos difíceis conseguimos encontrar o consolo e o caminho para aprender a ser feliz. Falamos agora seu nome com leveza e orgulho, e sobre momentos da sua vida e da sua morte com naturalidade e amor.

Passamos uma semana tranquila desde então... muitos momentos a vontade é de ficar em silêncio pensando nela, e como isso é bom. Há momentos em que me sinto bem e feliz, e em alguns momentos choro e sinto saudade. Mas o tempo todo uma paz inexplicável repousa em meu peito, como se uma parte de mim já estivesse no céu. E na verdade está.

Esta semana minha mãe ainda está aqui em casa comigo, e segunda-feira começamos a mexer nas suas coisinhas. Em seu berço há uma tropa de bonecas e bichinhos sorrindo, guardando o local em que por dois anos ela dormiu. Não esperam a sua volta, não há a sensação ou a expectativa de que ela ali esteja. Mas o sentimento de que seu espaço ainda deve ser respeitado e preservado. Ela não está aqui, mas seu perfume e a doçura de sua presença ainda se mantêm pela casa e nos objetos que lhe pertenceram.

Eeee! Viva a Vitória!

Havia o receio de como seria mexer em suas coisas, se cairia em prantos, se ficaria angustiada, se sentiria um vazio... Comecei pelo mais fácil, doar os pacotes de fraldas e lenço umedecido que estavam na sua cômoda, e também os remédios. Engraçado, quando fui mexer nos remédios me veio uma vontade de chorar doída. Ela não precisa mais disso, não precisa de remédio para ajudar a bexiga, nem de analgésico para nada. Lembrei dos momentos difíceis em que ela não se sentia bem, reclamava de alguma dor e lhe dava algumas gotas de ibuprofeno (alivium). Nos últimos meses estes momentos foram mais frequentes e tivemos que partir também para dipirona ou paracetamol. Tristeza pelos momentos difíceis e alegria porque acabaram.

Separei as roupas que ela usou pouco, ou as que já estavam muito gastas... mas aquelas que ela ainda usava no dia a dia, que tinham a sua carinha e o seu cheirinho, estas não posso ainda me desfazer. Ficarão em suas gavetinhas para serem vistas e cheiradas quando der vontade. Tenho poucas roupas antigas suas guardadas, a maior parte eu passava adiante pela falta de espaço onde guardar. Guardei apenas uma sacola com algumas peças de recém-nascida (ela usou tamanho RN por uns 4 meses!) e algumas peças de quando ela veio para casa. Olhamos estas roupinhas e lembramos de muitos momentos felizes. Sorrimos lembrando seu jeitinho quando nasceu, e espantadas pelo quão pequenina ela era. Alguns conjuntinhos tamanho prematuro ela usou até quando tinha uns três meses. Surpreendente como ela cresceu e estava tão grande e forte. Quantos milagres nossos olhos presenciaram durante estes dois anos e meio.

Os produtos de higiene também ficarão sobre a sua cômoda. Não há mais aquela bagunça do dia a dia, as coisas espalhadas, que às vezes eu ia até seu quarto com ela no colo para buscar, ou quando trocava a fralda no trocador ao lado. Agora está tudo organizadinho e quando der vontade vamos até ali, podemos usar seu perfuminho, creme ou sabonete pra lembrar seu cheirinho. Não é a mesma coisa, outra dia passei seu perfume em meu pulso, cheirei e cheirei... não é a mesma coisa, porque ela tinha uma fofurice e um perfume próprio que absorviam de uma tal forma as fragrâncias na pele e nos cabelos que duravam até o dia seguinte. Mas é bom ver e lembrar!


No sábado fomos ao supermercado e compramos flores. Umas flores do campo coloridas e alegres, e também um pé de ciclâmen rosa intenso. Muitos de vocês não nos acompanhavam aqui no blog quando contei a história de um ciclâmen e como foi especial refletir sobre o exemplo de sobrevivência e esperança de nossa bebê (esta postagem também recebeu o título É tempo de florescer, está lá em fevereiro de 2010). Então o ciclâmen agora sempre nos lembrará dela.

Ontem completaram-se sete dias da sua partida, da sua viagem para o céu. O Marcelo e eu fizemos uma oração agradecendo a Deus por sua vida, por seu consolo e pedindo que continue nos dando forças e direção para seguir adiante. Depois sentamos em frente ao computador e vimos uns álbuns de fotos, e acabamos caindo na página do you tube para ver seus vídeos. Queríamos ver as imagens dela no skate e dela sorrindo, pois foram alguns dos momentos mais felizes e belos, além daqueles momentos em que ficávamos quietinhos com ela no colo lhe dando um carinho e vendo ela curtir um sono gostoso e seguro. Como ela foi amada, beijada e abraçada! Um vídeo leva a outro e dali a pouco estávamos gargalhando vendo suas caras e bocas, seus miadinhos, suas sapequices e peripécias, tudo registrado. Chamamos vovó Cida e vovó Alice e ali ficamos um tempo, não sei se minutos ou horas, rindo e se alegrando, vendo tantos momentos felizes e intensos desde seu nascimento.

Hoje fomos até o GHRAU, separei seu skate, suas órteses e a adaptação do carrinho que fizemos e levei para deixar com a Janice que foi sua fisiterapeuta por mais de um ano. Lá fomos acolhidas e aceitas, amaram a Vivi e acreditaram nela e vivemos muitos momentos lindos e felizes. Então quis deixar suas coisas para serem usadas lá, para ajudar outras crianças especiais que lá são atendidas e ajudadas, pois sei que será bem usado e aproveitado.

Também me vieram aquelas lagriminhas insistentes quando lá entrei, e depois quando subi para ver a Janice na sala da fisioterapia infantil. Ao abraçá-la chorei e agradeci por todo o carinho e apoio, ela também agradeceu e disse que foi uma honra para ela atender a Vivi. Havia ali mais duas mamães com seus filhos especiais e pararam tudo para conversar, agradecer, sorrir e chorar.

Saí de lá em paz. A vida segue em frente. Ainda estranho um pouco o tempo e o espaço, tudo era em função das suas atividades, da sua presença e seus cuidados, mas me sinto livre e em paz. Cumpri minha missão, minha princesa descansou da sua luta e eu também agora estou descansando um pouco. Sou mãe de uma princesinha que mora no céu, uma mamãe que tem agora seus braços vazios... mas graças a minha filha meus braços agora são mais fortes e abertos para apoiar outras mães a também viverem sua história de maneira plena e feliz, a não cairem no engano de tentar abreviar a dor e se privarem das alegrias e bênçãos que também terão amando seus filhos especiais, com acrania, anencefalia ou qualquer outro desafio que a vida lhes apresentar. Amar de todo o coração vale a pena. Ah! como vale a pena!

Deus será nosso consolo e força sempre

Queridos, se vocês se preocupam que eu lhes deixe e abondone o blog, não se preocupem, vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil! rsrs Se vocês não me abandonarem, eu também não vou embora! O posfácio dessa história ainda vai nos render muito pano pra manga e lembrar e falar da nossa gatinha será para mim sempre uma alegria e um consolo.

Até quando Deus nos levar a outras batalhas e outros ventos da sua perfeita vontade.

Choro, riso e paz



Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo. João 14:27
 

Que saudade apertada de abraçar minha gatinha... apertar, beijar, sentir seus cabelinhos macios e perfumados, suas bochechas fofinhas, e ver seu rostinho maroto de felicidade por ser amada!

Mas que alegria saber que ela está bem, que não tem mais dor, que está livre e que eu a entreguei livremente nas mãos de Jesus, com todo o amor do mundo, pois sabia que, daqui em diante, Ele iria cuidar dela melhor do que eu... conheci um amor mais pleno, o amor que deixa partir a quem se ama para que fique bem. Se tem alguma coisa que pode ser maior que a dor da perda é a dor de ver quem amamos sofrer. Agradeço tanto a Deus por ter sido misericordioso conosco e com minha amada, porque até a véspera de sua partida ela estava conosco bem e feliz. E quando veio o sofrimento Ele a recolheu, a salvou.

Quantas lembranças lindas, quanta alegria que vivemos! Fomos loucamente felizes, irresponsavelmente loucos de amor e carinho. Nos entregamos sem medo nesse mergulho sem volta que é ser mãe e pai de uma pérola de grande valor. Isso ninguém, jamais, poderá tirar de nós, nem mesmo a morte. Assim como nada pode nos separar do amor de Cristo, em Cristo nada pode nos separar da nossa amada filha.

Foi só uma longa viagem, em que ela não pôde levar nada senão sua própria alma e todo amor que recebeu de nós. Que grande festa o céu deve ter feito para sua chegada. Assim como no seu nascimento, o choro e o riso agora andam juntos, tristeza e alegria se tornam uma coisa só.

É vida para quem fica e vida eterna para quem vai.




olha a nossa serelepe...

te amamos muito princesinha, que você esteja a correr e pular e tenha um skate super potente por aí, para onde Jesus tenha te levado em seus braços... rsrs

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nossa Eterna Vitória de Cristo...



Este é um lindo vídeo que nossa querida amiga Claudia fez para nossa amada Vivi... Muito obrigada!

Nosso amado Fabinho também partiu...

Queridos amigos,

Recebi agora à noite a triste notícia que nosso amado Fábio Gabriel também partiu para junto de Deus. (Fabinho nasceu em Barbacena, Minas Gerais, em abril de 2011, com o diagnóstico de acrania e anencefalia).

Ele passou mal na terça à noite, por volta das 20h (quando nossa princesinha já estava nos preparando para partir), e foi levado para a UTI com pneumonia. Ele não respondeu a antibioticoterapia e seu estado ficou muito grave, evoluindo para sepse e choque séptico.
 
Hoje à noite por volta das 21h seus pais e avós se despediram dele e o devolveram ao Senhor, que tão bondosamente deixou que ele ficasse por 1 ano e 3 meses de uma vida muito especial, alegre e cheia de superações. Fernanda comentou que seu coração foi tomado de muita paz quando Fabinho descansou.
 
Por favor estejam conosco em oração por eles, que Deus continue lhes dando força, consolo e muita paz, com a certeza de que cumpriram uma linda missão de amor e respeito à vida.
 
Agora o céu está em festa, pois o Senhor recolheu mais um dos seus preciosos milagres. Como estes dois devem estar felizes correndo, pulando, cantando e nos esperando junto com Jesus. Nós ficamos com a saudade e a gratidão a Deus. Eles sempre foram perfeitos e amados!
 
 
 
 

sábado, 21 de julho de 2012

Vitória de Cristo - lindas lembranças




Vejam que linda homeagem que uma querida leitora, a Marcela Vitorino, fez para nossa amada Vivi, muito obrigada!

O último pôr do sol



Eu já estou sendo derramado como uma oferta de bebida. Está próximo o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda. 2 Timóteo 4:6-8


O justo perece, e ninguém pondera sobre isso em seu coração; homens piedosos são tirados, e ninguém entende que os justos são tirados para serem poupados do mal. Aqueles que andam retamente entrarão na paz; acharão descanso na morte. Isaías 57:1-2


O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta. Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranqüilas; restaura-me o vigor. Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem. Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos. Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice. Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver. Salmo 23


 O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 1 João 5:4

  
 Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível. Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados.



Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: "A morte foi destruída pela vitória". "Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão? " O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.


Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.
I Coríntios 15:50-58


 Respondeu Jesus: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada. Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo. "Vocês me ouviram dizer: Vou, mas volto para vocês. Se vocês me amassem, ficariam contentes porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Isso eu lhes disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam. João 14:23, 27-29



Estas são algumas fotos dos últimos três dias que passamos com nossa princesinha, antes do dia da sua partida. No sábado, passeamos no solzinho, domingo brincamos no chão da sala e fiz uma linda trança em seus cabelos. Na segunda-feira estava muito frio, ela estava dormindo tranquila. Passei bastante tempo à tarde com ela em meu colo, abraçada em mim, esquentando-a junto ao meu corpo. À noite ela também dormiu tranquila no colo do papai e da vovó Cida. A coloquei para dormir de barriguinha para baixo, deixei o aquecedor do quarto ligado pois ela estava com 35,2º C. Até 1h30 da manhã fui espiá-la no berço, ela dormia tranquila, tinha até largado a chupeta. 

Quinze para seis da manhã o Senhor a acordou dizendo que seu tempo conosco havia findado, que deveria partir... mas deixou-a nos avisar que estava partindo e se despedir de nós. A levamos ao hospital onde ela chegou já entrando em choque. Porém não havia um foco de infecção, os pulmões estavam limpos, a urina sem alterações, o abdômen normal, em todo seu corpinho não foi encontrado o foco da infecção. Mas ela estava tendo um choque séptico avassalador, uma infecção fulminante, talvez no sangue, talvez devido a tantas infecções recorrentes e uso prolongado de antibióticos.

Por um acesso intra-ósseo ela recebeu muito soro, foi entubada, passaram um catéter central e entraram com drogas para subir a pressão e fortalecer o coração, além de antibiótico. Mas não houve respostas. Em vez de subir a pressão baixou e os rins pararam de funcionar. Diferente das outras vezes, em que ela lutou, brigou, resistiu e reagiu, desta vez ela permaneceu quietinha e sem respostas. Parecia estar dizendo que agora iria descansar de sua luta e da sua missão. Assim que a médica nos comunicou, ao final do dia, a imensa gravidade do seu estado, imploramos a Deus que tudo se revertesse e ela fosse curada mais uma vez. Porém ela continuou da mesma forma. Então clamamos ao Senhor que ela não sofresse mais, que se havia chegado a hora de levá-la, que ela pudesse ir em paz e sem dor. Supliquei a Deus que se fosse para sofrer, que fosse comigo e não com ela.

Em poucos minutos então sua frequência cardíaca começou a diminuir. Como um pôr do sol, seu coração foi suavemente se pondo enquanto ela era abraçada e beijada. Como as últimas notas de uma sinfonia, da mais bela melodia que eu já tive o privilégio de ouvir em toda minha vida, desta música silenciosa que ela proferiu em cada segundo da sua existência conosco. Mesmo entubada ela deu dois últimos suspiros e voou para Jesus, em paz, em paz... E nos deixou embalados por essa doce canção que foi tê-la amado profundamente, de todo nosso coração, com todas as nossas forças físicas, espirituais, emocionais e intelectuais, na alegria e na tristeza, nos dias bons e ruins, por toda a sua vida, da concepção ao nascimento, do nascimento à morte. Esse amor tão forte, que eu aprendi e que percebi que era capaz de sentir simplesmente aceitando-a e recenbendo-a em minha vida, estará para sempre comigo e me guiará por todos os dias que me restam. Um amor que me levou para mais perto do coração de Deus.

Que me resta agora, que farei dos meus dias, do meu levantar ao meu deitar, sendo que nos últimos três anos dediquei cada dia de minha vida para essa princesa que tive o privilégio de ser mãe? Não sei. Só sei que quero continuar a ser uma pessoa à altura da filha que eu tive. Há muito a fazer. Ela descansou da sua missão, mas nós ainda estamos a cumprir a nossa, que estará sempre intimamente ligada a ela, à sua memória, ao valor inestimável e único da vida, ao direito inviolável a este bem tão valioso que é viver o tempo que se deve viver, com amor e dignidade.

Orações por um amiguinho especial

Queridos amigos, por favor juntem-se a nós em oração pela vida do Fábio Gabriel, que está internado na UTI em estado grave com pneumonia.

Fabinho nasceu com acrania e anencefalia como a Vitória, e tem um ano e três meses. Que Deus venha sustentá-lo e fortalecer o coração de seus pais, Fernanda e Fábio, neste momento difícil. Que os médicos sejam iluminados a fazer o melhor por essa preciosa vida. Pai, por favor, traga cura e recuperação ao Fabinho, que ele possa ficar bom e voltar para casa com seus pais que o amam tanto. Em nome de Jesus entregamos a vida dele nas tuas mãos, amém.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nossa amada Vitória agora está com Cristo

Amados amigos,

Com tristeza em nosso coração, mas também com muita paz e gratidão a Deus, ontem (17 de julho) às 21h30 devolvemos nossa amada princesinha Vitória de Cristo para o nosso Pai, que com tanto amor e misericórdia deixou que ela ficasse conosco, além dos maravilhosos 9 meses da sua gestação, por mais incríveis dois anos e meio de imensa felicidade.

Assim como ela chegou em nossas vidas, com tanta coragem e doçura, ela também partiu. Logo cedo às 6h da manhã ela acordou gemendo e estava com 40,5 graus de febre. Percebemos que algo muito grave estava acontecendo e após um banho quase frio a trouxemos para o hospital Sabará. Ela foi socorrida, mas rapidamente entrou num quadro gravíssimo de choque séptico, foi levada para a UTI e tudo foi feito para salvá-la. Porém infelizmente ela não respondeu às medicações e percebemos que ela estava nos dizendo que era chegado o tempo de descansar, que sua missão estava cumprida e Deus a estava chamando. Assim como nós respeitamos a sua vida por amor a ela e confiança e obediência a Deus, também por amor, confiança e obediência foi chegada a hora de respeitar a sua morte. Ela partiu serenamente enquanto a beijávamos, abraçávamos e lhe dizíamos o quão preciosa era, que sempre a amaremos e que ela podia partir em paz para junto de Deus. E ela partiu.

Amanhã no Cemitério Campo Grande, a partir das 9h ocorrerá o velório e às 14h faremos seu sepultamento, devolvendo seu lindo corpinho à terra, pois sua alma está viva e radiante junto de Cristo.

Ficaremos muito felizes em receber os que estiverem perto para agradecer a Deus pela vida tão honrada e fantástica que nossa amada filha Vitória teve e para glorificar seu nome por essa linda história que Ele escreveu. História da qual, humildemente, tivemos a grande honra de fazer parte. Só temos a agradecer por termos podido amar e cuidar dessa pequena princesinha dos céus que iluminou nossas vidas e a de tantos ao nosso redor, nos levando para mais perto do nosso Criador.

Agradecemos imensamente o grande carinho de todos, por todas as orações pela vida dela e pelas mensagens de apoio. Muito, muito obrigado por terem vivido essa linda jornada de amor e vida junto conosco!
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